Povo Huni Kuin - Kaxinawá


O Povo Kaxinawá ou Huni Kuin (Gente Verdadeira) 

como eles se denominam, vive em terras situadas no Brasil e no Peru. No Brasil, o território do povo Kaxinawá localiza-se no Estado do Acre, nas regiões dos Vales do Purus e Juruá, enquanto que no Peru seu território está localizado a partir do rio Curanja. As comunidades Kaxinawá, no Estado do Acre, estão localizadas em 11 terras indígenas, das quais três são compartilhadas com os Ashaninka, os Shanenawá e os Madijá, é o povo de maior contingente populacional do Estado. Sua língua pertence à família lingüística Pano, que eles chamam de Hatxa-Kuin (língua verdadeira), cuja riqueza manifesta-se inclusive pela diversidade musical.


Artesãos da Comunidade São Joaquim



Para os Huni Kuin a terra é de uso coletivo; as famílias, chefiadas pelos homens fazem seus roçados, utilizando os espaços disponíveis para o plantio de forma que toda a comunidade possa utilizá-los. Os trabalhos na aldeia são divididos por sexo e por idade. Há atividades realizadas somente por mulheres, outras exclusivamente por homens, algumas reservadas para os mais jovens, mas há também trabalhos que podem ser realizados por qualquer pessoa da comunidade, de ambos os sexos e de qualquer faixa etária.




Tecelagem Aldeia São Joaquim



Os Huni Kuins possuem uma vasta cultura material que vai desde a tecelagem em algodão, com tingimento natural, até a cerâmica feita em argila com cinzas obtidas de animais, árvores e ainda cacos de outras cerâmicas, onde são impressos os kenês, uma espécie de marca que identifica a cultura material dos Huni Kuins, cujo significado está relacionado à coragem, força, poder e sabedoria. O artesanato se configura como uma das principais fontes de renda das famílias Huni Kuins, devido ao seu belo design tem uma grande aceitação no mercado regional e até mesmo nacional.

Na sociedade Kaxinawá, tradicionalmente, há uma organização social que gira em torno de grupos de famílias extensas, com destaque a duas figuras: a liderança e o pajé. A liderança porque tem um poder político de arregimentar a comunidade em torno dos interesse da coletividade, e o pajé porque tem o poder espiritual, da cura, de fazer e desfazer feitiços, o poder mágico-religioso.




 Pajé da Aldeia São Joaquim
Ikamuru Agostinho Manduca 



Embora os pajés tenham sido uma das figuras mais atingidas das sociedades indígenas durante o processo de colonização da Amazônia, a sociedade Huni Kuin ainda os mantém como elemento significativo em sua cultura. Os colonizadores sabiam que extinguindo o poder mágico-religioso e político das sociedades indígenas, minava-se a base da organização social das populações nativas. Todavia, os Huni Kuins resistiram. Mesmo vivendo em uma correlação desfavorável de forças com a sociedade envolvente, sendo vítimas de discriminação e preconceitos, ainda assim mantêm vivos aspectos essenciais de suas tradições, como por exemplo, o ritual tradicional. 

Na cultura Huni Kuin, a tradiçõa espiritual propicia a ligação das pessoas com o Yuxin, que está fora da natureza e fora do humano, é o sobrenatural e o sobre-humano. Através dos poderes do pajé, que vão desde conhecimentos para curar doenças até o contato com o lado espiritual da realidade se estabelece a ligação dos Huni Kuina.



Pajé Ikamuru Agostinho Manduca em Canto Tradicional




Além de manter viva sua identidade cultural, os huni Kuins, através de suas entidades representativas conseguem equilibrar suas relações com a sociedade envolvente. Tanto os do Vale do Juruá, quanto os do Purus possuem associações, que viabilizam projetos que vão desde a produção agrícola, importante para a subsistência das comunidades, até atividades de educação escolar, fundamentais, na medida em que proporcionam o letramento, um importante instrumento de resistência que permite às comunidades indígenas ler os códigos da sociedade envolvente, além de viabilizar um resgate e revitalização cultural.

Os povos indígenas, e nesse caso os Huni Kuins, vivem um constante confronto entre as suas tradições e as imposições da sociedade envol-vente; do mundo urbano, ou civilizado, como alguns etnocentristas denominariam, e a realidade dos homens que vivem na floresta e dela tiram seu sustento. Nesse contexto de disputas que perpassam a questão agrária, indo até a cultura desses povos, é que se organizam as lutas pelo respeito ao direito de ser o que se é. O direito de ter direito a ser índio. Os povos da floresta mantêm suas tradições, suas crenças, suas culturas vivas dentro de si, mostrando uma força que nem os mais de 400 anos de colonização e massacre amazônicos foram capazes de romper, fazendo ver e crer que é a partir da afirmação de sua identidade indígena que terão seus direitos e seus anseios assegurados.


Bibliografia:

Nenhum comentário:

Postar um comentário